Uma mulher de 30 anos e o companheiro dela, de 33, foram presos nesta quarta-feira (27) pelo crime de maus tratos contra duas crianças – um menino de 13 anos e uma menina de 11 anos – em Uberaba. Entre as agressões estão surras com mangueira de jardim e até o acorrentamento de uma das crianças.
A Polícia Militar (PM) chegou ao casal após atender o chamado de uma escola localizada no Bairro Jardim América. No local, a direção da escola relatou que o menino estava com uma marca no braço, possivelmente em decorrência de agressões físicas.
Com o acompanhamento de conselheiros tutelares, as crianças contaram que moram na companhia da mãe e do padrasto, além de outra criança, de 3 anos.
Segundo as vítimas, a família tem como fonte de renda o trabalho de colagem de sacolas plásticas. A atividade é desenvolvida na própria residência e as crianças são obrigadas a trabalhar desde 2013. A “jornada” começa assim que eles chegam da escola, por volta das 12h, e segue até o período da noite. Ainda segundo as vítimas, há dias em que eles são obrigados a passar a madrugada trabalhando.
No relato, que chocou os militares que atenderam a ocorrência, as crianças contaram que sofrem agressões físicas constantemente, sobretudo quando se negam a trabalhar, “teimam” ou “fazem coisas erradas”. Entre as coisas erradas, segundo as vítimas, está o fato de comer alimentos que seriam dos pais ou fazer barulho no período da manhã enquanto se arrumam para ir à escola.
Além disso, os irmãos relataram que a mãe não serve almoço em casa para os dois. A justificativa dela, de acordo com as crianças, é de que ambos já comem na escola. Porém, quando chegam em casa após o período escolar, os pais ficam comendo “coisas gostosas” na frente deles.
Aos policiais, a direção da escola informou que a merenda escolar é servida por volta das 9h30.
Acorrentado
Em uma parte do relato, o menino contou já ter sido acorrentado pelo pescoço depois de tentar fugir de casa.
O garoto também contou que, em 2018, a mãe chegou a tirá-lo da escola porque a direção da instituição estava desconfiada de que ele sofria agressões – normalmente por parte do padrasto. Ainda assim, além de deixar as crianças serem agredidas, a mãe estimula a violência contra os filhos, contou uma das crianças.
Além disso, até o menino de apenas 3 anos já começou a ser agredido pelo casal.
A avó materna, a mãe do padrasto e uma tia já tentaram intervir na situação. No entanto, em todas as oportunidades o assunto terminou em briga e os familiares acabaram desistindo.
Humilhação
Os irmãos contaram, entre outras coisas, que também são vítimas de agressões psicológicas. A menina, por exemplo, relatou que teve o cabelo raspado em 2017 por estar com piolhos.
Já o irmão mais velho disse que a mãe o obriga a frequentar a escola utilizando um fichário da cor rosa como forma de punição e no intuito de humilhá-lo.
Outro lado
Após ouvirem os relatos, militares e conselheiros foram até a residência das crianças. No local, o casal negou as acusações. Disseram que os irmãos não são obrigados a trabalhar, e que ambos só ajudam quando podem.
Sobre as agressões, eles disseram que “são em partes verdadeiras”, mas que não ocorrem na intensidade em que as crianças relataram, nem pelos motivos alegados pelos irmãos. Segundo a mãe, as agressões ocorrem porque o filho “é terrível”, foge e anda com más companhias, briga nas ruas e até já cometeu furtos.
Ainda conforme a mãe, a alimentação na casa é “apenas controlada” e a geladeira da família fica no quarto do casal para que as crianças não comam toda a comida. Ela confirmou que o almoço não é servido para os dois irmãos mais velhos, já que eles se alimentam na escola.
Sobre a acusação de que a mãe acorrentou o filho, ela também confirmou. A mulher contou que ele ficou acorrentado durante três dias quando tentou fugiu. De acordo com ela, foi “com a intenção de proteger o filho”.
Após a realização do atendimento médico, foram confirmadas as lesões causadas pelas agressões, principalmente no menino. Além disso, a garota apresenta quadro de infecção de ouvido, desnutrição e febre.